HIDDEN FIGURES | MOVIE REVIEW

Este post tomou uma reviravolta precisamente enquanto eu o estava a escrever...

Já estava há imenso tempo para vos falar deste filme. Em inglês Hidden Figures, em português Elementos Secretos e em português do brasil Estrelas Além do Tempo; chamem-lhe o que quiserem, isso é convosco, o importante é verem o filme (ou lerem o livro) e conhecerem esta história, que é tão boa e tão importante! Contudo, estava eu a fazer alguma pesquisa acerca do filme quando encontrei algo que, honestamente, me fez perder a vontade de escrever este artigo... Ao invés disso, escolhi continuar o que estava a escrever, embora, claro está, vos vá contar tudo aquilo que descobri. Posto isto, resta-me só avisar que, como quero mesmo falar dessas descobertas que fiz, o post vai conter spoilers, portanto, se não vos agradar a ideia de descobrir muito sobre o filme, sugiro que visitem antes outro artigo aqui do Bookaholic!

Baseado numa obra homónima, escrita por Margot Lee Shetterly, este filme conta-nos uma história que já devia ter sido contada há mais de cinquenta anos, a de três matemáticas afro-americanas que trabalhavam para a NASA durante a corrida espacial que os Estados Unidos da América e a Rússia travaram durante a Guerra Fria. Com a fantástica Taraji P. Henson no papel de Katherine Johnson, esta longa metragem conta ainda com Octavia Spencer, que dá vida a Dorothy Vaughan, e com Janelle Monáe, que interpreta Mary Jackson.


Lançado nos Estados Unidos em dezembro de 2016, Hidden Figures conta a história de Katherine, Dorothy e Janelle - três amigas que trabalham como "computadores" no laboratório aeronáutico de Langley. Num ambiente constituído apenas por mulheres negras, porque a lei na Virgínia assim o estabelecia.

A história começa a tomar um rumo diferente quando Katherine é selecionada para trabalhar no Space Task Group, devido à sua excelência no que toca à geometria analítica. Sendo a primeira afro-americana na equipa - e no edifício -, são muitas as adversidades que encontra, todas elas relacionadas com a segregação racial, desde a insatisfação dos colegas de equipa por terem que trabalhar com ela a ter mesmo que percorrer quase um quilómetro para ir à casa de banho, uma vez que só pode usar a do edifício onde antigamente trabalhava.

Ora certo dia, Katherine é confrontada pelo seu chefe acerca do tempo em que desaparecia do espaço de trabalho da equipa; esta, naturalmente frustrada, explica-lhe a distância que tem que percorrer até à casa de banho do outro edifício, que faz quer esteja sol, quer esteja a chover, acrescentando ainda que levava sempre trabalho consigo para compensar o tempo que gastava no percurso. O chefe da equipa tem assim um ato heróico em que arranca da parede o sinal que indica que aquela é uma casa de banho para negros, dizendo ainda que "na NASA, fazemos todos xixi da mesma cor".


Uma cena forte, em que é marcada uma posição contra ao racismo, não acham? Pois é, nunca aconteceu. E agora vocês dizem Mas Bia, há imensas coisas em filmes que nunca aconteceram, e têm toda a razão nisso; mas num filme tão importante para a cultura afro-americana, num filme tão importante para o sexo feminino, num filme que é baseado num livro que foi feito com base em entrevistas às verdadeiras Katherine, Mary e Dorothy, qual era a necessidade de um herói branco? Segundo o Vice News, Katherine não perdia cerca de uma hora do seu tempo de expediente para ir à casa de banho noutro edifício, ela simplesmente usava a casa de banho dos brancos; o que, na minha opinião, seria algo muito mais forte para se mostrar no filme, devido ao seu carácter quase revolucionário.

Mas calma, que há mais! O filme continua e, paralelas à história de Katherine, desenvolvem-se também as histórias de Dorothy e Mary. A primeira luta contra a rejeição constante e inexplicada da sua candidatura a supervisora, enquanto a segunda é selecionada para trabalhar no escudo protetor de calor espacial, identificando de imediato falhas no mesmo. A sabedoria de Mary não passa despercebida ao líder da sua equipa, que a encoraja a que ela siga o sonho de se tornar engenheira.

Paralelamente às três histórias profissionais destas três mulheres, está ainda a acontecer a história de Katherine e Jim Johnson; aqui aborda-se, novamente, a desacreditação das mulheres na área das ciências exatas, neste caso, na matemática. Felizmente, a personagem de Jim tem o desenvolvimento de carácter que era esperado, reconhecendo mais tarde o seu erro e pedindo desculpa à matemática, permitindo assim que a sua história de amor cresça e se desenvolva.

Enquanto isso, na NASA, Dorothy descobre que será instalado um computador eletrónico que ameaça susbtituir o departamento dos "computadores" e mostra-se empenhada em aprender a trabalhar com o sistema. Ela acaba por não só conseguir aprender como trabalhar com o computador, como por ser a primeira a fazê-lo. Tendo em conta isso e o facto de que Dorothy ainda ensina as suas colegas a trabalhar com o sistema, ela acaba então por alcançar o cargo para que há tanto se candidatava, ganhando também algum respeito por parte dos seus superiores brancos.

Feitos os últimos arranjos para o lançamento, Katherine é informada que já não é precisa no Space Task Group e volta então para a sua divisão inicial. Contudo, são descobertos erros no cálculo das coordenadas de aterragem e um dos astronautas exige que os cálculos sejam feitos por Katherine. Ela fá-lo rapidamente, como seria de esperar, mas depois de os entregar na sala de controlo, vê a porta da mesma ser fechada na sua cara. Surge então o seu antigo chefe que, em mais um ato heróico, permite que ela esteja dentro da sala de controlo quando o lançamento é feito - a única mulher negra num mar de homens brancos. Muito bonito, não é? Pois é, mais uma vez, falso. Os depoimentos que Katherine deu provam que, na verdade, ela assistiu ao lançamento através de uma televisão no seu escritório inicial.



Novamente, é perfeitamente normal que o filme não siga a história tal e qual como ela aconteceu, porque, afinal, é isso mesmo - um filme, não um documentário. O que chateia aqui é a necessidade de um herói branco quando a história destas três mulheres já é tão forte e poderosa por si só.

O post já está a ficar longo, e peço-vos desculpa por isso, mas resta-me apenas acrescentar que, apesar de ter ficado chateada com estas duas verdades que descobri, o filme não deixa de valer a pena. É uma longa metragem interessante que aborda três histórias que nos eram completamente desconhecidas e que, infelizmente, quase ficaram por contar. O desempenho das três atrizes é estupendo e todos os problemas que são abordados ao longo da história, desde a segregação racial à desacreditação do sexo feminino, são extremamente importantes e merecem ser falados! Sem dúvida um filme que, apesar de tudo, deve ser visto e revisto! 

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16 comentários

  1. Muito obrigado, querida Beatriz!

    Tenho a dizer-te que as tuas reviews leio do início ao fim de sorvo. A tua escrita surpreende-me a olhos vistos. Ainda não vi o filme mas por aquilo que me têm dito, é uma verdadeira história na medida em que mostra, de facto, as dificuldades que as mulheres têm (ainda para mais as de "cor"). Este é um daqueles filmes que tenciono ver com tempo precisamente por saber que, dele, vou conseguir retirar muita coisa!

    NEW GET THE LOOK POST | WHAT TO DRESS ON SUMMER NIGHTS / 3 WAYS!
    InstagramFacebook Official PageMiguel Gouveia / Blog Pieces Of Me :D

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    1. Ohhh Miguel, não tens noção do quão contente fico! É mesmo muito importante receber esse tipo de feedback. Fico de coração cheio por teres gostado do post e espero que gostes do filme também!

      Obrigada pela visita e pelo comentário, querido! Um beijinho!

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  2. Vi agora a tua publicação no grupo do FB e realmente ainda não tinha vindo cá mas por falta de tempo. Cá estou eu, vou seguir o teu blogue e já agora, estou para ver esse filme há tempo porque só ouço falar maravilhas!

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    1. Fico tão contente por teres gostado do Bookaholic! Espero que gostes do que vais ler por aqui no futuro!

      Obrigada pela visita e pelo comentário! Uma beijoca!

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  3. Ainda não vi mas fiquei com imensa curiosidade!! Já estou a seguir o teu blog <3

    Beijinhos
    Cloud World

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    1. Fico contente por teres gostado do Bookaholic! Obrigada pela visita e pelo comentário.

      Um beijinho!

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  4. Eu vi o filme logo quando estreou e adorei, retrata bem uma América racista que infelizmente ainda o é. Percebo a tua questão do herói branco e de certa forma tens razão, mas também percebo algumas "inverdades" no roteiro para intensificar o drama de três grandes mulheres. Parabéns pela review :)

    Bitaites de um Madeirense

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    1. Sim, o retrato que o filme faz é fantástico e muito "accurate"! Fico contente por teres gostado da review; muito obrigada! Obrigada também pela tua visita e pelo teu comentário.

      Um beijinho!

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  5. Nunca vi! Mas fiquei curiosa!!

    https://quase-italiana.blogspot.pt/

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    1. É extremamente interessante! Obrigada pela visita e pelo comentário.

      Um beijinho!

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  6. Quando o filme foi para os cinemas, ganhei bilhetes para ir à antestreia mas, infelizmente, não pude ir. Desde então, tem estado aqui na lista para ver. Parei de ler a review no momento em que disseste que contém spoilers, mas prometo voltar em breve, depois de ver o filme!

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    1. Eu compreendo, por isso mesmo é que pus o aviso - para não estragar o filme a ninguém ahahah Fico então à espera de que voltes e espero que gostes do filme! Obrigada pela visita e pelo comentário.

      Um beijinho!

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  7. Gostei imenso da tua review. Confesso que ainda não tinha pensado no filme dessa forma que expuseste (sobretudo porque não sabia a história verdadeira), mas concordo inteiramente com o que disseste. Na altura em que o vi fiquei completamente absorta com toda a história.

    With love, Miss Melfe

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    1. Fico muito contente por teres gostado! Realmente ganhamos uma noção completamente da história quando ficamos a conhecer mais algumas coisinhas... Obrigada pela visita e pelo comentário!

      Um beijinho!

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  8. Ainda não vi mas está em lista de espera!

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    1. Recomendo muito! Obrigada pela visita e pelo comentário, Marta.

      Um beijinho!

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