No final de abril deste ano, o Netflix lançou uma nova série especialmente crítica e satírica que, aqui entre nós, me conquistou apenas pelo trailer. Já se tinha falado sobre privilégio branco aqui pelo blog - no post COISAS IMPORTANTES DE QUE NINGUÉM GOSTA DE FALAR - e a verdade é que Dear White People vem para abrir os olhos aos espectadores que ainda insistem em ignorar este problema real. Esta série deriva de um filme homónimo de 2014, contando até com alguns dos mesmos atores, e a primeira temporada conta com dez capítulos, cada um com cerca de meia hora.
Embora a minha curiosidade nesta série tenha surgido logo após ter terminado de ver o trailer, só este verão é que tive tempo suficiente para me poder deitar no sofá com o computador no colo e ver com atenção este programa tão importante! O facto de ser uma série com episódios curtos faz com que todos eles sejam extremamente importantes e cativantes, impedindo que a história se torne aborrecida ou demasiado parada; além disso, faz também com que seja um programa muito leve, bom de se ver.
Samantha White (Logan Browning) é a orgulhosa locutora do programa de rádio Dear White People, onde aponta e expõe acontecimentos racistas que tenham lugar no campus da Universidade de Winchester - uma das universidades da Ivy League -, bem como outras situações que ocorram e que provem a existência do privilégio branco. À exceção do episódio final, todos os capítulos abordam e exploram a vida de um personagem específico, desde a pessoa que eles eram antes de entrarem para aquela universidade, a tudo o que se passou até ao momento presente. São então abordadas situações como festas blackface, a descoberta da verdadeira orientação sexual e até mesmo o uso da n-word, entre tantos, tantos outros.
Não é difícil, de todo, descrever esta série - é fantástica. Em tudo o que a compõe, desde a forma como cativam os espectadores, à história, aos próprios atores e à forma como interpretam o papel que lhe foi dado. É um programa excecional, que vem falar de imensos assuntos importantes e que ainda são, por muitos, considerados tabu - fica o exemplo do racismo, da homossexualidade, das vantagens que temos, ou não, consoante a nossa cor de pele.
O facto de os episódios serem curtos e de haver apenas dez faz com que vejamos a primeira temporada inteira em menos tempo do que aquele que gostaríamos, o que nos deixa depois mortinhos para rever e rever e rever outra vez. A juntar a isso tudo, é ainda importante dizer que, embora trate assuntos graves e pesados, Dear White People é uma série descontraída, muito bem conseguida e que nos consegue divertir e entreter enquanto nos educa, sendo que foi essa a principal razão que me levou a querer falar-vos dela.
Como já devem calcular, esta foi uma série que também gerou muita controvérsia, tendo inclusive sido até acusada de racismo inverso - o que é ridículo e vem novamente provar a existência do privilégio branco, uma vez que não existe tal coisa como o racismo inverso e o mundo seria um lugar muito melhor se todos nós fôssemos capazes de ver que somos sim privilegiados apenas por causa do nosso tom de pele e de lutar contra isso. A resposta de Justin Simien, criador da série, a essa reação por parte dos internautas foi positiva, tendo dito que estavam apenas a provar o ponto ao qual ele queria chegar com a série e a trazer mais atenção para a mesma. Atenção essa que é, claro, não só bem vinda, como merecida!
E se a minha opinião não chega para vos convencer do quão boa é a série, deixem-me que vos diga que foi muito bem recebida pelos críticos e que tem sido alvo de feedback muito positivo! No Rotten Tomatoes, por exemplo, a série conta com 65% de votos acima dos 3.5; além disso, é ainda de referir esta citação de uma crítica que James Poniewozik escreveu para o The New York Times e que resume a série muito melhor do que eu alguma vez poderia ter feito:
"Uma das características de Mr. Simien é fazer os atores olhar diretamente para a camera, quer em imagens de grupo ou em conversas de um para um. Isso enfatiza a missão do programa: introduzir-se no teu espaço seguro, exigir envolvimento e deixar claro que, sim - quem quer que tu sejas - Dear White People está a falar contigo."